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Entender, valorizar




Por: Chrystian Marques

Tem pouco tempo que estive lendo um livro do grande escritor russo Tolstoy, autor russo do clássico “Guerra e Paz”. O livro se chama “O que é arte?” Autor consagrado do século 19, no mundo inteiro, por ser um gênio da literatura russa e polêmico, nos traz nesse livro, que vinha trabalhando a mais de dez anos, um olhar sobre o que é a arte, qual a importância que ela tem na sociedade seja na época, primitiva, antiga moderna ou contemporânea. Seja o renascimento, seja o dadaísmo, seja o concretismo, e tantos ismos, Tolstoy defendia a convicção de ser a arte para servir a um propósito maior senão a de conduzir a humanidade ao caminho do bem, a arte não devia servir apenas ao propósito do belo, mas o do eterno, ao caminho do bem. Desmistifica a beleza do prazer. Adentra os sentimentos humanos de cada época e muitas das vezes critica construtivamente as artes, a música, o teatro, as pinturas de muitos artistas que criavam trabalhos simplesmente inúteis, os artistas vendiam-se negando seus talentos e objetivos para agradarem ao gostos sórdidos dos reis, dos ricos hipócritas e prepotentes dos séculos que antecederam seu tempo e no seu tempo. A aristocracia determinava os valores que a sociedade deviam seguir. Valores esses vãos, medíocres, anti-cristãos, abusados, mesquinhos. A essência da arte imitava literalmente a vida soberba de madames e príncipes sem caráter e desvirtuados da bondade, do bem, das virtudes.

A descrição que ele nos faz é contagiante:



“ Os sentimentos com que o artista contagia os outros podem ser os mais variados — muito fortes ou muito fracos, muito importantes ou muito insignificantes, muito maus ou muito bons: sentimentos de amor pelo seu próprio país, de entrega e submissão ao destino ou a Deus expressos numa peça dramática, arrebatamentos de amantes descritos numa novela, sentimentos de volúpia expressos num quadro, coragem expressa numa marcha triunfal, felicidade evocada numa dança, humor evocado numa história divertida, o sentimento de serenidade transmitido por uma paisagem ou por uma canção de embalar, ou o sentimento de admiração evocado por um belo arabesco — tudo isso é arte.
Desde que os espectadores ou ouvintes sejam contagiados pelos mesmos sentimentos que o autor sentiu, há arte.
A arte é uma atividade humana que consiste nisto: em uma pessoa conscientemente, por intermédio de certos sinais externos, levar a outras pessoas sentimentos que experimentou e que estas sejam contagiadas por tais sentimentos e os experimentem também. “
A arte não é, como os metafísicos dizem, a manifestação de alguma misteriosa idéia de belo ou de Deus; não é, como os psicólogos estéticos dizem, um jogo que serve para se descarregar o excesso de energia acumulada; não é a expressão das emoções de uma pessoa através de sinais externos; não é a produção de objetos que agradem; e, acima de tudo, não é prazer; mas é um meio de união entre pessoas, unindo-as nos mesmos sentimentos, e indispensável à vida e ao progresso em direção ao bem-estar dos indivíduos e da humanidade. “

Estou escrevendo sobre esse autor e estarei escrevendo a respeito de arte por um longo tempo, porque é oportuno falar de arte e cultura no Cariri e vejo essa ironia que muitos não admiram arte, antes muitos não possuem um conhecimento básico da arte e do propósito do que é a arte como acredito, minha maneira pessoal, minha humilde opinião, cuja maioria costuma condiciona-la como apenas entretenimento, mas, infelizmente, não como uma maneira de o próprio homem crescer para o bem. O entretenimento acredito como tão superficial porque tem a função de dar certo prazer no ser humano. O prazer que agrada aos sentidos, mas não constrói em sua razão um despertar para objetivos do bem, da conscientização dos valores importantes. A superficialidade é o mau do século dizia certo escritor. Vejo o esforço que a casa Olhar das artes realiza na direção de fazer jus a capital da cultura, vejo a Alessandra escrevendo artigos no blog do Crato para um importante e grande empreendimento para trazer o artista plástico Michael de Feo ministrar aulas não só às crianças como aos interessados e artistas do Cariri e o resultado disso tudo é uma falta de apoio que acho que nunca ouve verdadeiramente, um apoio concreto, um olhar inteligente para que o Crato que está a frente desses projetos cresça artisticamente, culturalmente e geograficamente. Acredito que a admiração, respeito, valorização nasce quando se há um conhecimento profundo sobre arte. Conhecer arte é estudar a história da arte, os conceitos de cada época, a contextualização de cada época. Fico feliz que pessoas maravilhosas como Edilma Rocha, Dihelson Mendonça, Alessandra, tantos outros, procuram estar nessa luta exaustiva de conseguir com que autoridades olhem para a cultura e a arte como algo que é importante para nós cratenses e como pessoas.
Falo por isso de Tolstoy porque ele dizia que a arte é instrumento importante para o crescimento do homem. Falo de Tolstoi porque em seu livro nos abre os olhos para vermos a arte não como coisa insubstancial, mas tão significativa como ar que respiramos, como a política do turismo, como política da saúde, como a política da educação.
Eu sou um artista que tive dois ateliês aqui em minha cidade que tanto amo. Abri porque sou um profissional e queria vender meus quadros conceituais entre regionais e universais, receber encomendas. Faço arte por amor e provocar em nós o melhor que temos. Meu ego não se satisfaz em querer mostrar sem que haja contágio. È um trabalho naturalmente. Obviamente vendia, recebia encomendas, no entanto, diante da realidade econômica e cultural doente do Crato, doente porque ainda a arte e a cultura sofre a falta maior de organização, as vendas demonstravam isso. Meu critério de venda por um tempo foi reduzir os valores, dependendo da pintura. Um Critério baseado no meu próprio valor artístico era inquestionável. Jamais retrocedia independente disso tudo. Fazia pela condição aquisitiva e cultural. Infelizmente chegou o tempo. Cansei disso tudo e parti para um lugar onde o mercado de arte é valorizado. Todo o meu trabalho sempre foi conceitual por isso um dos motivos do choque das pessoas em olharem um quadro e não verem ali um cachorro, uma casinha de taipa, galinhas comendo milhos, uma serra ao fundo, não que esteja errado essa imagem, mas o cariri é muito mais do isso. Hoje trabalho em casa, faço o que bem entendo e gosto. Quem quiser encomendas, estamos aí. Em 2007 mandei meu projeto para o Centro Cultural BNB e fui selecionado e fui valorizado financeiramente. Assim será.
As escolas não estudam arte oficialmente. Uma vez no ano no mês de novembro se realiza a Mostra Cariri das Artes. Um museu é belíssimo e rico, mas pouco investimento no propósito do estudo do acervo e histórico dos artistas cearenses e caririenses. Exposições temporárias deveriam estar sendo incluídas para o fluxo do museu. Por que não retornar com o Salão de arte que outrora acontecia? A arte do cariri carece de ser olhada dessa forma. Tantos ilustres representantes cratenses da arte como Sérvulo Esmeraldo, Vicente Leite conquistaram o mundo com sua arte porque em São Paulo ou Rio valorizam a arte e o artista e no entanto o lugar que eles nasceram, parece querer desmentir seus feitos, parecem querer desmedir quando absolutamente deviam enaltecer a cidade, deviam fomentar a história, as idéias. Por que não ver na arte o instrumento de relações construtivas? Um orçamento maior para a cultura e arte é indispensável para o fomento da arte regional. Vamos lutar para que o Crato,o Cariri, ganhe um catálogo a altura dos catálogos das metrópoles com fotos dos nossos artistas, seus trabalhos e a cultura nossa. Que esses catálogos sejam enviados aos grandes museus do Brasil para que possam ser vistos pelos curadores, artistas, simpatizantes, colecionadores a toda a massa que lhes interesse. Um catálogo e o site do acervo do Museu Vicente Leite também deveria ser confeccionados com orçamentos municipal, patrocínios e quem desejar entrar nessa causa e divulgar sua empresa. Vamos entender e valorizar.

Chrystian Marques

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