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Sensibilidade de luz





Sérvulo e Dodora: novos encantamento cotidianos, por meio da arte (Foto: ADRIANA PIMENTEL)



O Caderno 3 convidou o artista plástico Sérvulo Esmeraldo e a curadora de sua exposição (também sua esposa), Dodora Guimarães, para uma conversa sobre arte e as ´coisas boas´ da vida. Visitando a própria exposição, no Centro Dragão do Mar, o artista diz encarnar o olhar de pesquisadorA princípio, sentados nos banquinhos de madeira, próximos ao Memorial da Cultura Cearense, uma conversa sobre arte, política, inspiração e, claro!, sobre as coisas simples (e boas) da vida. ´Cada obra de arte é uma aventura, equivale a realidades diferentes e histórias muitas´, começa Sérvulo, com a voz pausada e, vez em quando, entrecortada pela velocidade do vento.Para o artista, sentir a arte dentro de si é como uma necessidade de fazer ´alguma coisa com as mãos´. Sentimento este que o ´persegue´ desde os tempos de criança. ´Isso progride à medida que se inicia na carreira artística. Toda a minha vida é baseada na criação. É uma espécie de estado de espírito, que toma conta do pensamento´.A energia criadora da expressão artística (aquela da qual falam os filosófos e historiadores de arte) parece transbordar dos pequeninos olhos do artista. Mágico! Suas pupilas dilatam como num êxtase, ao falar daquela que é a razão de seu viver: a arte.´A gente pressente o que vai acontecer. É o ato da criação. Respiro arte, dia e noite, e nada mais!´. Um artita 24 horas. Ele retruca: ´Não, sou artista 48 horas!´, ressalta.
Militância no exterior
Da época em que viveu na França, Sérvulo lembra a militância ao lado de amigos artistas, oriundos de diversas partes da América Latina. ´Criamos um organismo chamado de ‘A América-Latina Não-Oficial’. Tinhámos um jornal que circulava clandestinamente. Nós distribuíamos os exemplares em pacotes e, em seguida, os depositávamos em agências de correios diferentes. Realizávamos muitos encontros para discutir questões referentes à Ditadura Militar. Inclusive chegamos a fazer uma exposição sobre o assunto´, recorda.Interrompendo a prosa, Sérvulo diz encantado : ´Desculpe, mas vi um gavião sobrevoando por ali e não pude deixar de admirá-lo´. Risos. Mais a fundo, Dodora ressalta: ´Ele está sempre vendo coisas que não vemos. Sérvulo é um ser que mostra pra gente o que é invisível´. Com ar pensativo, continua: ´Não tinha medo das ações clandestinas, não mesmo, e era até divertido. Essa época me marcou bastante como ser humano, sabe? O Brasil já foi um país mais dinâmico, hoje está tudo meio parado...´.Embora, o tempo e a realidade sejam outros, Sérvulo revela-se um artista-cidadão comprometido com o momento atual. Por meio de seus trabalhos, procura dialogar com o espaço social. Exemplo disso é a forma como realiza e desenvolve sua arte pública.Segundo Dodora Guimarães, a primeira obra de Sérvulo Esmeraldo com que teve contato foi a escultura da Praia do Náutico. ´Quando ela foi instalada lá, foi um verdadeiro marco! O artista conseguiu estabelecer um padrão, trazendo a arte contemporânea para a cena pública de Fortaleza. Aliás, foi essa escultura que me levou até ele. Lembro que, na época, fiquei curiosa para conhecê-lo, pois afinal, pensei, um cara que faz um trabalho desse deve ser muito especial´, conta.A arte pública é uma das grandes paixões de Sérvulo Esmeraldo. Muitas de suas obras se acham espalhadas por vários cantos da cidade, construindo elos e referências entre o simples transeunte e o próprio lugar. ´A relação com o espaço é da maior importância, a escultura trabalha com o entorno. Este é o momento em que o povo realmente entra em contato com a obra de arte. É um contato que acontece diariamente, a obra acaba fazendo parte daquele lugar´, explica ele.Complementando as palavras do artista, Dodora afirma que o interesse do esposo por esse segmento da arte não acontece por acaso. É algo maior, que faz parte do sentimento humanista que ele traz enraizado consigo. ´Sérvulo é um cidadão político por execelência, com sensibilidade à flor da pele. A arte para ele é uma atitude política, é um modo de estar no mundo. Logo, o convívio com este homem é muito rico porque estou sempre aprendendo ´a ver coisas´. Até brinco que primeiro eu me apaixonei por sua obra e depois por ele´.
Exposição
Percorrendo a sala do Memorial da Cultura Cearense, Dodora Guimarães destaca o prazer que teve em fazer a curadoria da exposição ´ Sérvulo Esmeraldo por Mota Machado´. A ocasião lhe possibilitou um mergulho num total de 100 obras do artista, caracterizadas pelo uso de diferentes técnicas e materiais.Os trabalhos se encontram distribuidos entre esculturas, gravuras e relevos recentes. ´Nós temos trabalhos com tempo de produção de 40 anos. Procuramos, por meio da exposição, privilegiar o Memorial da Cultura Cearense, pois este é lugar pensado para a cultura local. A exposição começa aqui e é, também, neste espaço onde se concentra o maior número de obras do artista. Assim como o Sérvulo, sua obra preza pela transparência´, explica.Observando suas próprias obras, o artista diz encarnar o olhar de pesquisador. ´Fico vendo os meus erros e acertos. Sabe aquela escultura lá no canto, a de cor preta, daqui desse ângulo vejo que falta um elemento a mais´, diz. ´Coisa de artista!´. Nada perceptível. No entanto, parafraseando Dodora, Sérvulo transforma mesmo o invisível em visível. Ele está sempre perseguindo a luz que lhe alumeia as idéias e lhe faz gerar novas realidades.Mais informações: Sérvulo Esmeraldo por Mota Machado - 40 anos.
Em cartaz, até 16 de novembro, no Museu de Arte Contemporânea e outras dependências do Centro Dragão do Mar. Terça e quinta, das 9h às 19h - acesso até às 18h30. Sexta a domingo, das 14h às 21h - acesso até às 20h30. Contato: 85.3488-8624 / 8622.
Fonte: Diario do Nordeste

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